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quarta-feira, 22 de julho de 2009

VALSA COM BASHIR (2008)

Parece até uma receita pronta: filme com técnica de animação moderna, retratando um período ou momento histórico conturbado. Isso geralmente resulta em uma obra digna de nota, e muitas vezes premiada, mas cuja bilheteria não tende a superar a dos blockbusters hollywoodianos esquecíveis, cada vez mais freqüentes nas salas de cinema.
A compensação é a possibilidade de ser mencionado para sempre como “indicado ao Oscar”, ou “vencedor do prêmio em Cannes”, etc.
Mas “Vals Im Bashir” consegue agregar elementos a essa “receita”.
O roteiro acompanha o diretor Ari Folman em uma jornada de reconstrução de sua memória acerca da Guerra do Líbano, na qual ele lutou, e a respeito da qual não consegue lembrar fatos fundamentais. O protagonista começa assim a juntar peças que o auxiliem, através de entrevistas com outros veteranos dessa guerra.
Fazendo uso da técnica de animação denominada rotoscopia (mesma empregada no “Homem Duplo”, de 2006), o efeito obtido se assemelha às vezes a um delírio, cadenciado e chocante, o que pode ser evidenciado na cena inicial, e na seqüência dos soldados próximos à praia. O ritmo é alternado entre as cenas mais dinâmicas, e a fala dos entrevistados com passagens em flashback, mostrando o que se recordam do período em que combateram. Infelizmente, o resultado não é satisfatório ao longo de toda a projeção, especialmente nos momentos mais estáticos, em que a movimentação das pessoas retratadas não se mostra
tão fluída, devolvendo o espectador à sensação de estar vendo apenas uma obra de ficção.

Quanto à história, esse documentário em forma de animação, e a adaptação em quadrinhos do mesmo, recontam episódios pelos quais Folman passou, e também situações vividas por outros ex-combatentes, em um processo que visa não somente reconstituir as lacunas nas lembranças do autor, mas também uma forma de expiação das atrocidades cometidas durante o conflito, especialmente os ataques no qual o exército de Israel tomou parte, em retaliação ao assassinato do líder libanês Bashir Gemayel.
E se a própria narrativa e contexto histórico já representam razões óbvias pra apreciar o filme, a questão da memória, do modo como nós mesmos podemos criar formas de alterar e acreditarmos ser parte de fatos dos quais não participamos é uma das coisas mais interessantes que essa ousada animação apresenta.
Confrontando o passado, especialmente pelos relatos de outros, muito do que criamos tentando amenizar culpas e sentimentos de reprovação quanto a nossas próprias escolhas e suas conseqüências, vai se desfazendo.
As palavras do psiquiatra de Folman ajudam a compreender porque ele não consegue lembrar, e auxiliam o mesmo a conseguir o que é provavelmente seu principal objetivo com o documentário: eximir-se da responsabilidade pelos massacres ocorridos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em 1982.
Mas, mesmo transmitindo a idéia de que tudo está apagado, devido às palavras do médico de Ari, a cena final funciona como uma granada no estômago, restituindo os olhos dos espectadores para a realidade, e lembrando a nós que os crimes de guerra sempre deixam vítimas, mesmo que ninguém queira assumir a culpa por eles.
Em sua hora e meia de projeção, “Vals Im Bashir” nos conduz em uma busca de redenção impossível, em que o protagonista vai tentar durante o filme inteiro criar uma mentira convincente o bastante para que ele possa voltar a dormir tranqüilo à noite.



A vida real não é tão maniqueísta quanto Hollywood e muitas das HQs de super-heróis americanos nos dizem.
Quem se considerar capaz, assista e repense seus conceitos de heróis.



Quanto vale: 


Valsa Com Bashir
(Vals Im Bashir)
Diretor: Ari Folman
Duração: 90 minutos
Ano de Produção: 2008
Gênero: Documentário/Guerra


segunda-feira, 13 de julho de 2009

O CONFRONTO 2 - Direto do set de filmagem

O projeto mais ousado, e segundo projeto mais demorado do Q Studius começa a tomar aspecto de filme, finalmente.
Após o estúdio exigir o retorno do elenco e equipe técnica ao set de filmagem, (sob a alegação de que haveria pouca ação no que já havia sido filmado), os trabalhos recomeçaram, ao mesmo tempo em que o processo de edição, trilha sonora, e efeitos especiais prossegue, já sendo questionado inclusive se o curta-metragem estará pronto a tempo da pré-estréia mundial.
Mesmo assim, o produtor executivo Marcel Jacques garante que a franquia será pelo menos uma trilogia, considerando que o primeiro filme obteve expressiva bilheteria no Youtube.
Em entrevista exclusiva para o ibaldomarcel.blogspot.com, os atores Guiga Hollweg, e Marcel Ibaldo comentaram sobre o enredo deste novo blocksbuster, a dificuldade de lidar com o diretor Ibaldo, e a participação especial do ator e apresentador Bício.


Blog do Ibaldo: depois de “O Confronto” ter superado todas as expectativas, muitos questionaram se haveria uma continuação, e mais importante, se ela seria capaz de expandir a trama do filme original. Como foi para o elenco e equipe lidar com a expectativa que surgiu tão repentinamente?
Guiga Hollweg: Passo.
Marcel Ibaldo: Acredito que o grande detalhe em questão era se haveria uma boa história a contar em um segundo filme. Era a minha única exigência para retornar a interpretar o personagem. Dessa vez com um orçamento bem mais generoso, obviamente o controle criativo do diretor iria diminuir sobre a obra, mas ao menos o roteiro que me foi entregue tinha todos os elementos que considero importantes em um projeto no qual trabalho: ação, originalidade, e um enredo imprevisível.
Blog do Ibaldo: mas ao mesmo tempo, há inúmeros boatos sobre o processo de filmagem. O que pode estar atrasando a produção a ponto de não ter sido disponibilizado nem ao menos um trailer?
Guiga Hollweg: primeiramente, o novo diretor que o estúdio contratou. Parece que ele e o estúdio não estão de acordo quanto ao objetivo final do filme. Devido a isso a gente teve que refilmar muita coisa, e acrescentar cenas de ação ainda mais perigosas. Isso sem mencionar que o diretor não acredita no uso de dublês, o que obriga o elenco ao risco, e, pra falar a verdade, já garantiu a ida de alguns da equipe para o pronto-socorro.
Marcel Ibaldo: sei lá, às vezes parece que a mudança na direção, a interferência do estúdio, e o próprio roteiro mais violento e amplo tornam este um projeto muito arriscado, mas também não é possível negar que esta é provavelmente uma das maiores produções de 2009.
Blog do Ibaldo: o enredo dessa nova obra promete muitas surpresas, dentre elas a participação do famoso apresentador Bício, do programa de auditório “Dê Sua Cara Ao Tapa”. Existe alguma possibilidade de que tudo isso afete a coerência do resultado final?
Marcel Ibaldo: é improvável que esse filme seja um fracasso, se é o que tu está querendo insinuar. Todo mundo sabe que seqüências de filmes de sucesso costumam render mais grana que os filmes que os precedem, então o que dificulta mesmo as coisas é ter que responder perguntas cretinas dos repórteres.
Guiga Hollweg: fazer o quê? O que o público quer ver é pancadaria. Talvez isso explique o sucesso de programas assumidamente violentos como o “Dê Sua Cara Ao Tapa”. Pelo menos no caso da franquia “O Confronto”, as cenas de ação tem uma criatividade única, e a trama é repleta de momentos dramáticos, suspense, revelações surpreendentes e diálogos memoráveis. Quem acha que não vai entender pode ir assistir novela.

“O Confronto 2: A Vingança” tem previsão de estréia para setembro de 2009.
Q Studius.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

TRANSFORMERS (2007) TRANSFORMERS: A VINGANÇA DOS DERROTADOS (2009)


Por não ter tido oportunidade de assistir a primeira empreitada em live-action dos Transformers do modo adequado (no cinema, é claro), desisti de conhecer o resultado obtido com o movie de 2007.

Essa resolução permaneceu até semana passada, quando em decorrência do lançamento da seqüência (óbvia, devido ao sucesso comercial do primeiro filme) fui forçado a ver em DVD mesmo, e posteriormente, o novo longa-metragem já em cartaz.
Creio, no entanto, que isto não chegou a interferir de maneira relevante nas minhas impressões sobre o que vi.
Muito do que se observa nesses dois blockbusters já é antigo na carreira do diretor que conduziu as máquinas de combate automotoras à tela grande. Aliás, esse review poderia ser resumido em apenas uma frase: “são só mais uns filmes do Michael Bay”.
Pra quem ficou boiando e não percebeu o quanto essa frase elucida de maneira clara as características das adaptações cinematográficas em questão, eu explico.

Não são necessários muitos minutos de projeção pra notar os elementos que fazem dos trabalhos desse cineasta tão semelhantes entre si. Os dois episódios da franquia dos robôs oriundos do planeta Cybertron possuem as mesmas técnicas e recursos utilizados em excesso anteriormente, e ainda acumulam outros lastimáveis vícios do cinema Hollywoodiano.
Praticamente em todos os seus sucessos descartáveis, o diretor faz um uso obsessivo das gruas, o que mantém a câmera sempre girando, e dando a impressão que até a cena mais banal tem algo de dramático a transmitir, mesmo que a construção superficial da personalidade e do relacionamento entre os personagens ateste o contrário. Também estão sempre presentes os efeitos visuais absorvidos pós-Matrix, porém com uma câmera lenta a cada 5 minutos, o que talvez ajude a platéia a se manter interessada, ainda que os diálogos e a trama não tenham nada a dizer.
A fotografia se repete, as piadas ao estilo “Sessão da Tarde”, e os personagens estereotipados idem. Isso sem mencionar o que é facilmente evidenciado (especialmente) no filme de 2009, em que, não satisfeito em imitar outros filmes de ação, ele volta a reciclar as mesmas cenas de seus próprios filmes, culminando em algo no mínimo tedioso.
Mas, quem pode culpar Michael Bay? Ele tem que pagar o aluguel e enquanto o público se contentar com qualquer coisa cheia de efeitos digitais, explosões, e lutas intermináveis, ele vai continuar faturando uma grana alta, e isso sem nem ao menos ter que apelar para as desnecessárias criatividade, inteligência, ou coerência. 

E a propósito, com “Transformers: A Vingança dos Derrotados”, ele garantiu o início de um novo mercado lucrativo: a venda dos assustadores brinquedos “robôs eletrodomésticos do mal”.
Quanto à história, transita entre dois eixos. Um é uma comédia romântica adolescente entre o protagonista Shia Labouf e a mocinha Megan Fox. E o outro visa encontrar meios para que os robôs arranhem a lataria uns dos outros. 
Chega a tal ponto em que as únicas mudanças entre um filme e outro são o cenário das batalhas, o artefato lendário que vai salvar o dia, e a quantidade de robôs que vão colaborar pra tornar tudo ainda mais sem sentido. Ás vezes nem é possível diferenciar Autobots de Decepticons, já que parece ter faltado tempo pra customizar os coadjuvantes, e os poucos que se destacam o fazem por motivos lamentáveis. 

Talvez o mais notório seja o “Megazord” (isso mesmo. Um plágio dos Power Rangers) formado a partir de outros veículos, que funciona magistralmente como o capanga que em nenhum momento representa qualquer ameaça ou perigo. Ponto favorável ao movie de 2007, que por possuir uma menor quantidade de adversários robóticos se espancando não sofre desse problema, permitindo inclusive algum envolvimento e ação mais divertida, já que não se trata de apenas um monte de máquinas lutando sem distinção de quem é herói ou vilão na telona.
Ainda assim, ambos os filmes são uma boa sugestão pra quem gosta de barulho e efeitos especiais. 
E estes últimos provavelmente são a única coisa que explica o êxito da franquia nas bilheterias. O visual das máquinas de combate principais, e algumas cenas de ação são dignas de nota, mas é só isso. 


O que é uma pena, pois tudo indica que devido à renda já acumulada pelo segundo filme os robôs que outrora fizeram tanto sucesso nos desenhos animados provavelmente nunca terão uma adaptação decente para as telonas.
Hollywood tem tentado nos ensinar que é impossível fazer um bom filme de ação sem abusar da ignorância e estupidez, favorecidas pelas liberdades que a tecnologia permite.
Azar o nosso.


Quanto valem:
Tranformers
NEM meio ingresso.

Transformers: A Vingança dos Derrotados
NEM meio ingresso.