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sexta-feira, 19 de março de 2010

NINJA ASSASSINO (2009)



Já faz bastante tempo desde que um estranho filme em que hackers lutavam kung-fu tornou-se um marco do cinema moderno e nos lembrou que ainda era possível fazer um blockbuster com roteiro inteligente, e com algo mais a dizer além da tecnologia que tornava o produto final algo comercialmente vendável.

Matrix redefiniu o gênero Sci-fi para o século 21 e tornou os Irmãos Wachovski os caras do momento, mesmo que não tenham conseguido manter a qualidade ao longo da série. Se bem que eles souberam explorar o sucesso financeiramente nos derivados da franquia através de uma ousada estratégia de transmidia storytelling.
Nos projetos seguintes à franquia Matrix, menos badalados mas ainda assim influentes, iniciaram uma curiosa jornada por estilos e gêneros cinematográficos diferentes, com resultados financeiramente aquém do esperado.
Ainda assim, em seus trabalhos posteriores, ficou clara uma inquietação e busca por novas linguagens e formas de contar suas histórias na telona.

Em seu mais recente trabalho na produção de um longa-metragem, “Ninja Assassin”, essa afirmação permanece adequada, apesar dos resultados serem ainda mais divergentes do que nos filmes anteriores.
Retomando a parceria com o diretor James McTeigue (de “V de Vingança”, 2006), os Wachovski se permitiram homenagear os filmes de ninja sem nenhum pudor ou amarra convencionada pelas produções orientais que ultimamente despontaram no mercado hollywoodiano.
Sendo assim, esqueça o roteiro. Ele é apenas uma desculpa pra que as coisas aconteçam na tela, objetivando o combate entre o protagonista do filme e hordas intermináveis de ninjas.
Mas isso era o esperado. 



Admito que quando soube qual era a metragem do filme tive certeza de que seria assim. Em 1 hora e meia não se pode esperar mais de um filme com um nome tão “genérico” quanto esse.
Desse modo, muito da “coerência” e andamento da história exigem que o espectador se readapte a certos costumes do cinema oriental de ação marcial.
Para alguns, isso é tão complexo que é mais fácil sair da sala de cinema no meio da sessão e procurar outro filme.
Mas são exatamente esses exageros que tornam o filme minimamente interessante. 


Assistindo o filme foi muito fácil lembrar de outras produções com temática, narrativa, ou outros elementos semelhantes, dentre eles os principais que me vieram à memória foram: Blade of The Immortal (série em quadrinhos que também tem um protagonista que aproveita cada luta para desmembrar freneticamente os adversários), Crying Freeman (HQ e filme com uma trama de vingança de um personagem que apresenta vários aspectos parecidos com o Ninja do título do filme de McTeigue), e O Corvo (HQ e filme do personagem que retorna dos mortos pra se vingar de um grupo que tentou matá-lo. A atmosfera da história de ambos os filmes se assemelha bastante).


No entanto, o diretor e produtores descobriram do pior jeito que não é tão simples trabalhar com o gênero de artes marciais.
Tentando encontrar sempre uma identidade visual marcante para seus filmes, os Wachovski investiram no uso da escuridão que toma a tela durante a maior parte do tempo de metragem. Isso seria (imagino eu) para demonstrar a furtividade dos guerreiros em meio às sombras, mas não facilita a vida do espectador, que tem extrema dificuldade para acompanhar a maioria das cenas, quando além da penumbra atrapalhando as coisas, a câmera prossegue em movimentação excessiva, resultando em algo que extrapola o dinamismo e torna quase todas as sequencias menos divertidas do que poderiam.
Além disso, o roteiro consegue cometer erros lamentáveis de continuidade, que vão além do que é aceitável mesmo em uma produção desse tipo.

A impressão é que a ideia era criar algo quase tosco em certos aspectos. Se McTeigue realizou isso de maneira proposital, é impossível saber.

Ainda assim, há momentos e características que tornam esse filme um tanto interessante, especialmente a forma como a violência é mostrada na tela. Bem diferente do que se espera, a ação utiliza frequentemente o recurso idealizado pelas histórias de ninjas, tornando-os vultos em meio às sombras, e também mostrando as katanas como armas perfeitas para esquartejar e transformar os inimigos em restos e pedaços irreconhecíveis no chão, após terem sido cortados como se não fossem nada.

O que fica claro ao fim do filme é, no entanto, sua irregularidade enquanto cinema de ação. O óbvio potencial de um longa-metragem desses para um público específico, que investe em material referente a ninjas e guerreiros orientais parece ter sido desperdiçado por faltar um cuidado na definição do que seria filmado.

Em uma época em que pequenas obras de arte têm surgido contando sua visão dos combates marciais provenientes do oriente, é um excesso de despretensão acreditar que meramente ação desenfreada seria o suficiente para entregar à plateia um filme aceitável.
Fica minha expectativa que, mesmo com todos esses deméritos, possa render o suficiente nas bilheterias para que uma sequencia seja viabilizada, e que talvez ao ver o resultado desse seu trabalho os Wachovski percebam que não tem nada de legal em assistir um bando de sombras se espancando em meio a um cenário escuro, enquanto a imagem é chacoalhada pra que não fique claro nem se o protagonista atacou ou foi atingido pelo adversário.



Apesar do início tão promissor do filme, o veredicto é o pior possível: não vale meio ingresso, a menos pra quem é um aficcionado por cinema de artes marciais.
É isso.    

Ninja Assassino
(Ninja Assassin)
Direção: James McTeigue
Duração: 99 minutos
Ano de Produção: 2009
Gênero: Ação

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse filme eu ainda não assisti. Bem... vou procurar nos torrents da vida e conferir.

Guilherme Hollweg disse...

é uma pena, iria assistir só por que é dos Irmãos Wachowsky, mas, já que a crítica toda ta cagando na cebeça, vou assistir por casa mesmo, deixar outras prioridades para assistir no cinema.
Valeu o post meu bruxo!