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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

TROPA DE ELITE 2 (2010)


“Tropa de Elite” mudou o panorama do cinema nacional.
De algum modo, o filme de José Padilha repercutiu não apenas devido à sua intrincada temática, mas também por causa de uma série de inesperados fatos que de certo modo tinham a ver com a problemática abordada no roteiro.
Eu particularmente não esperava que houvesse uma continuação do filme, mas foi do interesse do diretor retomar a trama do notório Capitão Nascimento para contar uma nova história.

A expectativa era tanta que obviamente seria quase impossível superá-la.
Supondo que se tratasse de uma franquia hollywoodiana de ação, este filme deveria ser uma versão de seu antecessor, ampliada e com mais recursos.
De certo modo, é isso mesmo.
Porém, em sua totalidade, é bem mais que isso.

Os personagens agora convivem com um quadro político-social diferente, em constante evolução e adaptação às manobras realizadas pelo governo e pela polícia para expurgar o tráfico, ao menos aos olhos da mídia.
O Tentente-coronel Nascimento a que somos apresentados a princípio não difere tanto do primeiro longa-metragem, mas sua transição marca um dos aspectos primordiais da trama.
A distância do filho, e a dificuldade de burlar a burocracia que limita suas ações são apenas a ponta do iceberg. O roteiro, apesar de fictício, inspira-se em eventos reais, e acerta em cheio em cheio ao retratar a evolução do crime organizado, e ao revelar nos bastidores do Congresso Nacional a metodologia que uma vasta gama de criminosos utiliza para lucrar ilegalmente como o consentimento democrático da população.
Para quem é fã de filmes de ação, preparem-se para se decepcionar, ou para assistir o melhor filme do gênero em 2010.
Dependendo do interesse do público, este filme pode ser qualquer um dos dois.

Afinal, o roteiro inteligente e ousado não teme e não perde a oportunidade de escancarar os assuntos mais polêmicos concernentes à nossa vergonhosa situação política. O personagem de Wagner Moura, muitas vezes torna-se mero observador em meio a tantas reviravoltas e ao frenético desenrolar da caricata ação dos vilões.
No entanto, quando eu menciono que se trata de algo caricato não é meu objetivo sugerir um defeito do filme. Muito pelo contrário.
O diretor Zé Padilha simplesmente captou a essência do quadro de funcionários eleitos pelo povo para encher as propagandas eleitorais com promessas vazias, e os próprios bolsos com o dinheiro que poderia evitar a morte de tanta gente nas filas dos hospitais, ou  garantir uma condição de vida digna para aqueles que sofrem diariamente com as consequências da desigualdade social.

Nada poderia ser mais atual do que a caracterização dos políticos no longa-metragem, que se por um lado são cômicos, perdem totalmente a graça quando lembramos que o campeão de votos na última eleição fez questão de utilizar seus conhecimentos no ofício da palhaçada em sua campanha, o que cativou os eleitores com sua proposta de não fazer porcaria nenhuma em troca de um salário de deputado.
Quando eu disse que “Tropa de Elite 2” não é apenas um filme de ação, com certeza eu me referia ao forte teor político e crítico de seu roteiro, e ao ritmo que o deixa com cara de thriller policial, mas também ao clima assustador que incorre da constatação de que por mais exageradas que sejam as ações violentas da quadrilha composta pela cooperação da polícia, da mídia e dos políticos, de forma alguma podem ser consideradas irreais diante do que vemos diariamente nos noticiários, e que parece não haver solução para o problema considerando aqueles que são responsáveis por decidir quem deve ir pra cadeia quando as provas estão postas na mesa.

A violência exacerbada é um reflexo disso, do mesmo modo que as atuações viscerais por parte do elenco. E se o roteiro não fosse tão bom, as atuações ainda assim o tornariam um dos melhores filmes de 2010.
É o tipo de intensidade que o cinema brasileiro adquiriu com o estabelecimento de um treinamento de atores rigorosíssimo, e que resulta na formação de elencos cada vez mais impressionantes. É impossível sair impassível ao final da sessão diante de tamanha explosão dramática.

E enquanto isso, o protagonista Nascimento combate suas limitações evidenciadas pelo poder de seus novos inimigos. De repente ele percebe que as coisas não podem ser resolvidas simplesmente através de um tiroteio. A verdade que ele aprende mostra que o primeiro filme era apenas uma prévia ambientando o espectador para o que estaria por vir nesse novo lançamento.
É ele o herói de “Tropa de Elite 2”, e é o seu aprendizado que permite vislumbrar alguma chance de vitória contra a milícia criminosa.
O equilíbrio entre a estratégia e a truculência estabelece um rumo que pode ou não apontar uma solução a longo prazo para esse quadro sombrio.


Somando todas as qualidades do filme, seu maior defeito é definitivamente não ter sido lançado em setembro. A discussão que propicia teria feito diferença no primeiro turno das eleições.
E além de ser o melhor candidato brasileiro para o Oscar, seria um choque para a  esmagadora maioria dos cineastas estadunidenses notar que um diretor brasileiro os desafiou em seu próprio terreno, filmando uma obra de ação que dificilmente algum deles conseguiria, ou teria coragem de filmar.

Quanto vale:



Tropa de Elite 2
Direção: José Padilha
Duração: 116 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Ação
          

6 comentários:

Anderson N.G disse...

Filme fodástico.

Eu sou admirador do cinema nacional, mas digo sem dúvidas...Esse é o melhor filme feito nesse fim de mundo em todos os tempos!
O texto é uma porrada na cara de todos os corruptos residentes no DF!
André Mattos satirizando Wagner Montes, Deputado Carioca, é simplesmente hilário!

Já o Wagner Moura, sem comentários...
O cara é FODA.

PUTA FILME.

Anônimo disse...

Até que um dia o cinema nacional viu que não é feio fazer um filme com um ritmo e narrativa estilo "Jason Bourne".

Anônimo disse...

A força desse longa-metragem é o texto. Sem dúvida, esse é um dos melhores filmes produzido pelo nosso cinema.

Guilherme Hollweg disse...

O longa-metragem tem muito mais a dizer do que pensava, e provavelmente, senão o melhor, é um dos melhores filmes já produzidos em território nacinal. Incrível.

As analogias, a trama, o elenco, tudo muito bom...

Grande análise Ibaldo.
Curti pacas!!!!

Marcel Jacques disse...

Um ingresso e meio??!!!

Ah....vai te catar.
Abre essa mão.

Marcel Ibaldo disse...

Hahahahaha!!!

O filme provocou exatamente o que o diretor esperava.
O debate a respeito da trama tende a se estender por mais um bom tempo, até porque o filme superou toda e qualquer expectativa e continua dominando as sessões de cinema no país.
Ainda bem que o diretor Zé Padilha não aceitou transformar a sequência em seriado pela Rede Globo.