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sábado, 26 de fevereiro de 2011

OSCAR 2011 - A hora se aproxima...


Dessa vez o Oscar selecionou muitos grandes filmes e a expectativa é grande.
Faz tempo que eu não via uma edição do Academy Awards tão concorrida.
Relembrem a Lista de indicados e torçam pelos seus filmes preferidos.

Además, aguardemos.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O VENCEDOR (2010)


Em se tratando de esportes retratados no cinema, provavelmente nenhum outro conseguiu tanto destaque em suas incursões nas telonas do que o boxe.
Desde os clássicos “Touro Indomável” (1980), genial obra de Martin Scorcese, “Rocky: Um Lutador” (1976), o melhor trabalho de Sylvester Stalone que lhe rendeu o Oscar, até o relativamente recente “Menina de Ouro” (2004), de Clint Eastwood, que também recebeu o prêmio da Academia.
Tanta exposição do tema sempre tem efeitos negativos, e o pior deles é o surgimento de obras desnecessárias e redundantes, que não chegam a criar alarde nem mesmo pela sua baixa qualidade.
Para trazer alguma integridade ao projeto, ajuda quando trata-se de uma obra biográfica, afinal, todo o drama já está presente na história, e cabe ao diretor ser capaz de manter ao menos isso, ou quem sabe potencializar esse aspecto.

Falando em drama biográfico, a trajetória dos irmãos Mickie Ward e Dick Ecklund é uma excelente escolha.
O ator Mark Wahlberg, declaradamente fã da história de vida desses dois irmãos, fez o que pôde para viabilizar o interesse de algum estúdio no desenvolvimento dessa cinebiografia, e sua insistência foi recompensada com a participação de um diretor competente e um elenco idem.

O enredo do longa-metragem dirigido por David O. Russell transita basicamente em torno de Ward e Ecklund, sem ficar restrito ao que ocorre no ringue. As lutas ficam em terceiro plano, deixando espaço para o relacionamento familiar que é o pilar emocional do filme.

Construído para ter um aspecto de quase documentário, possui uma inesperada fluidez para um drama focado totalmente em diálogos simples e em personagens comuns.
Acompanhar a problemática família do protagonista é permanecer as duas horas de metragem habitando em seu bairro, vendo a rotina da mãe (brilhantemente interpretada por Melissa Leo) e das irmãs, que permanecem inertes torcendo que o promissor boxeador obtenha êxito, ao mesmo tempo em que o próprio tenta simplesmente algum sucesso de qualquer modo que seja, mesmo que não tão glamouroso quanto o passado de glórias repetido incessantemente pelo seu irmão, famoso por ter derrubado em uma luta Sugar Ray Leonard, em 1978.


E o personagem do irmão mais velho, interpretado por Christian Bale (merecedor de um Oscar), consegue uma façanha a princípio inimaginável, ou seja, conseguir se destacar de maneira visceral em meio a um elenco tão entrosado e consistente. Certamente que Mark Wahlberg está razoavelmente adequado no seu papel, porém sem o destaque esperado, até porque Christian Bale quase não lhe deixa espaço para ser notado.
Fica impossível enxergar o ator, quando ele está absolutamente irreconhecível em mais um trabalho extraordinário, muito mais marcante por exemplo, do que o Bruce Wayne suficientemente convincente que ele desempenha na nova franquia Batman.

Em “O Vencedor” ele extrapola o limite entre a atuação e a realidade. E é de seu personagem, ex-pugilista reconhecido outrora por sua perícia técnica, chamado inclusive de "Orgulho de Lowell" (bairro que ambienta a trama), e atualmente um decadente viciado em crack, de quem surgem alguns dos momentos mais importantes do longa-metragem.

Mas eu digo isso sem deixar de conferir o devido mérito ao núcleo familiar interagindo com o personagem de Wahlberg, o qual não deixa em momento algum de nos levar a crer que sejam menos do que uma família legítima, com laços de sangue e proximidade que geram mais atrito do que afeto, e em que é preciso enxergar que, para superar desavenças é necessário aceitar sacrifícios, e entender que em se tratando da vida real não existe um final feliz, perfeito do modo como é mostrado nos dramalhões e comédias românticas do cinema em Hollywood.


 Russell guia seu elenco tentando ultrapassar a superfície do relacionamento entre os personagens, arrancando deles um desempenho irrepreensível e extremamente emocional, mesmo para quem não era ator, exemplo do sargento e também treinador Mickey O´Keefe, que atua interpretando a ele mesmo.
E com segurança o cineasta permite que a história em si seja contada quase naturalmente, após a aceitação por parte dos atores de quem estão representando, ou melhor, de quem eles se tornam enquanto estão no set de filmagem.
O Vencedor”, é assim um reflexo da absoluta entrega e dedicação do diretor David O. Russell e de todos os envolvidos em retratar a vida repleta de tragédia e pequenas conquistas de Mickie Ward e daqueles que o cercam.
Ao fim da sessão, o conturbado ambiente familiar apresentado não chega a mudar, nem as pessoas que o habitam, mas há o que aprender durante o processo, e é isso o que permite um olhar menos pessimista a respeito do futuro.


Quanto vale: um ingresso e meio.

O Vencedor
(The Fighter)
Direção: David O. Russell
Duração: 115 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Drama

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A REDE SOCIAL (2010)


E já faz um tempão que o diretor David Fincher surpreendeu o mundo com seu inquestionável thriller de suspense absoluto, “Seven: Os Sete Crimes Capitais”.
De lá pra cá ele não se acomodou com o status adquirido quase imediatamente de grande diretor em Hollywood. Até então ele era visto muito na condição de promissor cineasta, e isso não era o bastante, obviamente.
Seus filmes seguintes demonstraram a inquietação do cara em tentar trilhar os mais diferentes caminhos que sua carreira pudesse, isso sem hesitar ingressar em algum projeto complexo e de retorno financeiro não tão fácil.
Mas ele não estava ligando pra nada disso. E “O Clube da Luta” é uma prova clara dessa afirmação.

A busca por consolidação de uma filmografia imprevisível sempre o aproximou de assuntos com os quais poucos ousariam trabalhar, e logo chegou até ele a oportunidade de transpor para a telona um episódio marcante da História recente.
Uma daquelas histórias que a memória efêmera da população tenderia a negligenciar em prol de algum novo assunto do momento, mas que teria a oportunidade de ser imortalizada com o poder marcante da linguagem do cinema.
A sinopse em si não é algo que soe revolucionário. Pra perceber que essa afirmação está correta, basta imaginar o mesmo roteiro se fosse dirigido por outro cineasta, algum desses que filma draminhas familiares hoje em dia. Não valeria investir duas horas pra assistir.
Porém, a aceitação por parte de Fincher em realizá-lo muda isso completamente.

A elaboração de sua instigante versão da trajetória de Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, concorrendo ao Oscar em 2011), criador do Facebook, não parte de um mistério a solucionar, ou de uma ou outra cena de ação que o público viu no trailer e que tenha despertado sua expectativa.
O relato é muito mais pessoal, próximo dos protagonistas, e aparentemente distante do que realizaram.
Até o fim da metragem a presença dos personagens não é apagada pela tragédia ou glória de seus feitos. Permanecem sendo as peças fundamentais da trama, Mark, Saverin (Andrew Garfield), Sean Parker (Justin Timberlake), os Irmãos Winklevoss (Armie Hammer), etc...
Falando assim, tende a ocorrer o que aflige o público médio, ao ler um resumo de filme que não diga: “e só eles poderão salvar o mundo dessa terrível ameaça”, pode parecer pouco interessante acompanhar o desenrolar dos eventos. O que seria um engano ao menos monumental.

Fincher tem afirmado sua carreira com o esmero na parte técnica andando em equilíbrio com sua inventividade e filosofia particular de enxergar nas pessoas retratadas o que há de mais importante, e por mais que os fãs de pirotecnia possam lamentar a ausência de qualquer indício de explosões ou sequências de ação, é impossível deixar de reconhecer o quanto é envolvente acompanhar uma simples história a respeito de uns caras que decidiram criar um sitezinho, e que certo dia se desentenderam provocando um processo judicial em que uns míseros bilhões de dólares estão em jogo.

De narrativa inteligente e de um singular dinamismo, A Rede Social prossegue fiel à ideia de simplesmente acompanhar seu competente elenco ao longo do caminho, sem deixar necessariamente vilões ou heróis definidos.
E em se tratando dos personagens, o que os difere é principalmente a perspectiva que cada um tinha a respeito do potencial da obra que estavam ajudando a criar. O Facebook permanece na forma de um desejo utópico dos responsáveis por o tornarem real, afinal, um dos pontos centrais do conflito entre eles pode ser visto como um embate entre o capitalismo e a simples liberdade de relacionar-se com outras pessoas.

A visão de Zuckerberg diverge dos demais por ser alicerçada no pensamento de que a necessidade de investidores é algo a ser deixado em segundo plano, de certo modo se assemelhando ao modo de ver de um artista em relação ao seu próprio trabalho. Não necessariamente importa se haverão fortunas envolvidas, desde que sua obra possa alcançar de algum modo o grande público. Saverin vê de maneira diferente, afinal é ele que assina os cheques e paga as contas. 


Na condição daquele que primeiro vislumbrou esse universo de possibilidades em sua mente, Zuckerberg passa a buscar esse propósito da maneira que lhe for possível, ainda que ao custo de sacrifícios, e ainda que estivesse criando uma ferramenta de relacionamento que não poderia auxiliá-lo a salvar os seus próprios, despedaçados em prol de sua conquista particular. E se o seu amigo Eduardo Saverin representa um empecilho, com sua incapacidade de enxergar o Facebook do mesmo modo que ele, não há escolha a não ser tirá-lo do caminho, e mesmo que os outros possam considerar o modo como isso ocorre uma traição, Saverin deveria compreendê-lo, afinal, ele é seu amigo, não é?
Enquanto isso, Fincher não está no cargo de diretor para atuar de juiz a decretar uma sentença. Ele apenas expõe as informações que trouxe do livro “The Accidental Billionaires”, de Ben Mezrich, e deixa ao espectador que saia da sessão afirmando quem ele acredita que é o certo ou errado, mesmo que não haja especificamente nem um, nem outro.
Uma história comum sobre dois amigos que criam um site, uma quase dramatúrgica tragédia moderna, e com certeza um grande filme.


A Rede Social
(The Social Network)
Direção: David Fincher
Duração: 120 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Drama

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

ROBIN HOOD (2010)


A essa altura do campeonato, praticamente todo mundo já assistiu alguma versão da história do ladrão que rouba dos ricos em favor dos pobres.
Na memória recente está o filme estrelado pelo então astro Kevin Costner em 1991, que depois do sucesso nos cinemas freqüentou a “Sessão da Tarde” por muito tempo.
Para um diretor que nem Ridley Scott se interessar por revisitar o relato desse personagem, deveria existir algum diferencial, algum aspecto ainda não explorado na lenda do famoso arqueiro da floresta de Nottinghan.
Pra falar a verdade, esse era o nome original do filme na época em que ainda se encontrava em pré-produção, e de acordo com o que eu havia lido em algum site imemorável no momento, iria ser a história sob o ponto de vista do xerife da Nottinghan do título, o que me parecia bastante interessante e inusitado.
Porém, passado algum tempo o projeto foi sofrendo transições e mudanças até chegar a um roteiro que em sua sinopse está bem próximo dos outros longa-metragens.

Em Robin Hood (2010), Scott retorna a um tipo de produção que ele vem exercendo ultimamente com considerável competência, o que é exemplificado por Cruzada (Kingdom Of Heaven, 2005) e Gladiador (Gladiator, 2000). ou seja, a ficção sendo construída sobre uma consistente base histórica.
Se bem que na busca pela biografia de Robin Hood, o resultado encontrado é uma colcha de retalhos composta por menções e pequenas referências provenientes de diversas fontes.
O diretor, então, define a que considera mais realista e assume a responsabilidade de reinventar o personagem para o século XXI.
Essa decisão não chega a transformar sua nova obra cinematográfica em um retrato com contornos absolutamente históricos, mas proporciona um enredo ao menos mais sério e inteligente.

O viés apresentado por Scott define o protagonista interpretado por Russell Crowe (em sua quinta parceria com o diretor) na função de fator contraditório em uma sociedade sujeita aos disparates de governantes arrogantes e imbecis, os quais consideram o poder adquirido por herança o suficiente pra subjugar o povo ao que lhes vier à cabeça, envoltos em maracutaias e jogos políticos cujas principais vítimas são sempre as classes mais pobres da população.
O cineasta acerta ao explorar essa abordagem, mas quando tem a oportunidade de afirmar a força da trama acaba falhando em pontos decisivos.
O próprio Ridley Scott afirmou certa vez que o cinema hollywoodiano acaba moldando os cineastas de modo que sigam os padrões pré-definidos pela indústria cinematográfica estadunidense, mas disse também que acreditava estar mantendo-se ileso diante disso.
Lamentavelmente, dessa vez ele não pode afirmar isso.
A construção dos personagens opta pela obviedade, e apesar de haver uma notória competência por parte do elenco liderado por Russell Crowe e Cate Blanchet, os excessivos clichês e ainda as batalhas coreografadas sem inventividade acabam deixando o longa-metragem muito simples e pouco relevante com o objetivado realismo totalmente esquecido. 


No fim das contas, o que funciona é a própria ideia original de um olhar menos caricato na história, que deixa o fato de Robin Hood ter sido um ladrão em segundo plano. Ele é mais um líder rebelde que reúne tropas para lutar por um ideal.
Parecido com “Coração Valente” (Braveheart, 1995) mas sem sua força dramática, acaba fadado ao esquecimento em breve, sem apresentar alguma atuação tão marcante, que nem o ocorrido em outro dos últimos trabalhos do diretor, que em “O Gângster” (American Gangster, 2007) teve Denzel Washington desempenhando seu papel com destaque.


Diversão rasa e insuficiente, e um filme desnecessário na filmografia de Ridley Scott, Russell Crowe e Cate Blanchet, perde a ousadia do discurso que termina diluído nas simplórias escolhas de um diretor, que há tempos busca encontrar seu novo clássico, mas que por enquanto está longe de seus êxitos do passado, conseguindo ao menos alguns resultados acima da média.
Infelizmente, Robin Hood não é um deles.


Quanto vale:meio ingresso, quando muito.

Robin Hood
(Robin Hood)
Direção: Ridley Scott
Duração: 140 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Ação / Aventura / Épico

sábado, 5 de fevereiro de 2011

MONSTERS (2010)


Este filme provavelmente confundiu o público.
O cinema vive um momento em que produções de baixo orçamento, e suposta baixa qualidade técnica servem ao propósito de lucrar algumas dezenas ou centenas de vezes mais do que o valor investido em sua realização.
Em épocas de “Atividade Paranormal”, e “Cloverfield”, seguir esta estética e forma é uma ideia interessante.
O que “Monsters” provavelmente provocou foi a comparação com “Cloverfield”, e esse é com certeza o pior equívoco que poderia ser cometido por quem busca apreciar este filme.

Os minutos iniciais confirmam o engano.
A ação muito bem filmada, com o estilo “câmera de mão”, apenas reforça a impressão de que será um baita filme de ação.
A seguir, enquanto a ambientação acontece, apresentando o contexto e os personagens, para o público pode parecer que é a preparação para a pirotecnia, mas isto não acontece.
E isto somente porque nunca foi objetivo do diretor Gareth Edwards que o longa-metragem seguisse esta abordagem.
Nos minutos seguintes, quem compreender que a história não se desenrolará repleta de embates entre os humanos e a criaturas provavelmente perceberá o ponto nevrálgico da questão trazido a tona pelo diretor.
Caso contrário, será uma jornada entediante.

Considerando a primeira hipótese, a observância do transcorrer das cenas me lembrou especialmente a ótima HQ “DMZ”. E isso se deve principalmente ao protagonista, um repórter que aprende muito sobre o seu papel diante do contexto de guerra que lhe é apresentado.
Assemelhando-se a um documentário em área de conflito, a paranóia é uma constante, com a pouca informação disponível servindo não apenas para confundir mais as coisas, quanto para manter a população inerte devido ao medo.
A paisagem desolada logo se torna o mais comum dos cenários, e em meio a relatos de habitantes da região a trama adquire contornos que a aproximam do realismo extremo, e isso sem perder o foco nos dois personagens principais.


Essa era com certeza a melhor alternativa, pois mantém a aproximação com o espectador, e também diminui os custos da produção ao deixar os alienígenas em segundo plano.
Porém, vale ressaltar que as criaturas antagonistas do exército americano aparecem em cena, e isso com auxílio de competentes efeitos especiais, não devendo nada a grandes produções hollywoodianas.
No entanto, são apenas meios para um fim.


Enquanto a travessia pelo território devastado prossegue, uma contundente crítica política vai sendo delineada, e é impossível não lembrar da recente invasão estadunidense ao Iraque, ao vislumbrar o ataque ao que é diferente, ocupando um território estrangeiro com o discurso de proteção.
E as boas ideias do filme se estendem até a sequência final, quando o diretor compensa a quase inexistência de ação do filme com um inesperado momento de intensidade, cujo impacto serve para ressaltar o viés crítico da obra, e esclarecendo definitivamente ao público, que os monstros da história são outros.


Quanto vale: um ingresso com louvor.

Monsters
(Monsters)
Direção: Gareth Edwards
Duração: 94 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Drama / Ficção científica