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quarta-feira, 15 de junho de 2011

X-MEN: O Confronto Final (2006)

E assim, após a época de desconfiança quanto aos resultados, o período de transição era superado, e tinha início o momento de consolidação das adaptações de quadrinhos para o cinema na forma de um subgênero rentável e claramente cheio de potencial para grandes filmes.
O tal rótulo de “histórias pra crianças” ia se perdendo no fato de que considerável parte do que o público acompanhava nas telonas era “based on the comicbook ...”.
Os três principais nomes dessa retomada haviam se tornado franquias, e os produtores exigiam continuações, e sugeriam derivados para aumentar esse universo agora em live-action, e se possível somar alguns milhões de dólares a mais.

O mundo dos mutantes da Escola do Professor Xavier (Patrick Stewart) já havia deixado de ser algo "praticamente impossível" de  ser representado no cinema.
Bryan Singer constatou e pôs em prática o que era invisível até então, e tornou as histórias fantásticas das HQs em algo aceitável em “um futuro não muito distante”, e todo exagero das aventuras dos heróis era então possível. Tudo construído com roteiro e ideias, sem subestimar o espectador e sem cair nas soluções fáceis dos quadrinhos.


Mas Bryan Singer já não estava no set de filmagem quando começaram as filmagens do terceiro filme dos X-Men.
Partindo para vôos mais distantes, ele assumira a responsabilidade de trazer de volta o Superman, deixando uma lacuna que a Fox penou para resolver.

Seu substituto, o diretor de altos e baixos Brett Ratner, já chegava com a pressão de proporcionar um arrasa-quarteirão de irrepreensível capacidade de aliar ação impecável, temática abordada de maneira contundente e visionária, e atender o que pediam os fãs (a essa altura já na condição de milhões de produtores executivos do então vindouro longa-metragem).
Dentre seus maiores problemas estava o pior de todos: a pista deixada no episódio anterior da cinessérie, evidenciando que a Saga da Fênix deveria estar à espreita para breve estrear nas salas de cinema.
Além disso, a ausência de parte da equipe, que acompanhou Bryan Singer em sua tentativa com o filme do Homem de Aço, apenas complicava o já polêmico andar da carruagem.
E diante disso, para evitar errar feio, Ratner optou pela segurança ao invés da criação.

X-Men: O Confronto Final” faz exatamente o que se espera de um filme de ação.
A alternativa do diretor permanece no que fãs e produtores solicitaram, quase como se ele dissesse: “Isso foi o que vocês pediram. Não me responsabilizo”.
Sendo assim, estão lá a Saga da Fênix, uma nova investida na questão do preconceito aos mutantes, dessa vez catalisada por causa da descoberta de uma “cura” para a mutação, além de pencas de personagens em um longa-metragem inexplicavelmente de apenas 1h e 44min.
O comprometimento de Ratner é visivelmente muito mais no desenvolvimento dos efeitos e combates (muito bem filmados, é verdade), do que nas características exploradas por seu antecessor na função de diretor.
Foram a sequência da Sala de Perigo, as lutas de Wolverine (Hugh Jackman) contra Fanático (Vinnie Jones), Tempestade (Halle Berry) contra Calixto (Dania Ramirez), Homem-de-Gelo (Shawn Ashmore) contra Pyro (Aaron Stanford), e de todos os X-Men contra o exército mutante reunido por Magneto (Ian McKellen, sempre um destaque) que tomaram a maior parte do tempo do cineasta.


 É divertido, isso é inegável, porém permanece sempre superficial demais, sem nunca nem sequer ameaçar chegar perto do que lhe era exigido em um capítulo final de tão importante trilogia cinematográfica.

E com isso eu não estou ignorando os acertos de Brett Ratner, que soube criar um prólogo instigante, e além da pirotecnia caprichada, soube caracterizar bem alguns personagens, com destaque para o Fera interpretado por Kelsey Grammer com a diplomacia e competência devida (de certo modo substituindo o Noturno de Alan Cumming, que lamentavelmente foi a grande perda do segundo filme para esse terceiro).
Ainda assim, é inimaginável o que Ratner pensou ao escalar os personagens Anjo (Ben Foster), Psylocke (Mei Melançon), e alguns outros coadjuvantes simplesmente para tornar a metragem ainda mais reduzida com relação ao excesso de heróis e vilões que coexistiam em poucos instantes em cena para assim dar alguma chance de que uma das mais importantes histórias da equipe mutante fosse desenvolvida de maneira mais ou menos correta. E isso que ele equivocadamente limitou a participação de Ciclope (James Marsden) ainda mais do que Bryan Singer.
Nem assim adiantou.


O tom de fantasia acaba sendo a escapatória do diretor, que afasta as coisas do tom de sério de ficção científica, devido à necessidade de conseguir resumir o roteiro o máximo possível, fazendo com que o clímax da adaptação seja um redemoinho de gente que vai morrendo sem ter feito coisa nenhuma na trama, enquanto clichês são costurados pra que pareça que Ratner sabia exatamente o que estava fazendo.


 Sem dúvida, qualquer um que assistiu “X-Men 2” esperava um desfecho à altura da franquia cinematográfica que modificou o modo com que os cineastas encarariam o ofício de adaptar histórias em quadrinhos para a película.
O que pôde ser conferido em “X-Men: O Confronto Final” foi o que poderia ter sido o primeiro filme da série, com ação e tentativas em certos pontos bem-sucedidas, e outros tantos aspectos pecando pela falta de uma compreensão clara do que deveria ser mantido, e o que teria que ser adaptado para não ter que ser aceito somente por ser “uma daquelas historinhas dos gibis”.
O saldo do trabalho de Brett Ratner acabou sendo um razoável filme, que apesar de bom entretenimento, se perde na inconsistência do trabalho de seu realizador, que preferiu dirigir de maneira convencional e simples demais o que deveria ser um dos mais importantes filmes de quadrinhos já realizados.

Quanto vale: Meio ingresso, e já é bastante.

X-Men: O Confronto Final
(X-Men: The Last Stand)
Direção: Brett Ratner
Duração: 104 minutos
Ano de produção: 2006
Gênero: Ação

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